A noite passada e porque dormir sete horas seguidinhas dia após dia consegue ser bastante aborrecido, resolvi entreter o tempo debaixo dos lençóis a sonhar.
Não se poderá chamar sonho ao meu entretém, porque nuvens de algodão doce nem vê-las. Também não pode entrar na categoria dos pesadelos porque os poços e as escadas intermináveis igualmente primaram pela ausência.
Chamemos-lhe onirismo bizarro, que é coisa que não ofende.
E foi assim...
... estava eu numa casa-de-banho pública, aflitinha - que casas-de-banho públicas não se visitam por gosto - quando um dos compartimentos vaga. Três miúdas estavam à minha frente, mas não entraram, portanto decidi, de comum acordo com a minha apertada bexiga, fazer o obséquio de a ocupar, porque certamente as moças esperavam alguma "aliviante" dos compartimentos contíguos.
Entrei no cubículo exíguo e nem tempo tive de fechar a porta e baixar as calças.
As tais raparigas entraram também e dei por mim quase em cima da retrete, sem espaço para rodeios, com três morconas entre mim e a porta, a do meio de navalha em punho a pedir-me a carteira.
Eu não sou pessoa normal, menos quando sonho. Assim, em vez de dizer "ai valha-me Deus! Tomem lá, levem o que quiserem...", não disse nada. Pensei para comigo, rais'parta as pirralhas, já levam com a carteira, já!
E, tomando uma atitude perfeitamente razoável e proporcionada, não fiz mais nada: agarrei na mão que empunhava a naifa e empurrei-a contra a mânfia que estava do meu lado esquerdo e que ficou logo com nova aragem na laringe.
No entretanto a minha irmã, que afinal vai se a ver também entrava no meu sonho (sendo inexplicável porque é que não tinha ficado a segurar-me a dita carteira lá fora), agarra a mânfia do lado direito pelo cabelo.
A bem dizer eu não vi a minha irmã, que estava do lado de lá da parede do cubículo, mas reconheci aquele puxar de cabelos.
Com uma gandula de goela furada, outra de pêlo arrepelado, acordei.
E prontos, achei que era uma relato apropriado para anteceder os meus desejos de Feliz Natal para a multidão dos meus leitores.