Bolha

Porque a minha história não podia ficar sem pontuação...

segunda-feira, novembro 26, 2007

A minha vida não é fácil. Ou antes, ultimamente não tem sido.
Fazer boas acções é muito bonito, mas não às minhas custas.
Um por todos e todos por um está muito bem, mas não quando o um sou eu!
Eu sou coisa miúda, mereço ser preservado. Preservado de flexões, de sacos das compras, de escavações e, sobretudo de agulhas.
Suspeito que ser braço direito num corpo canhoto, ditou a minha sina.
O outro tem a mania que é importante. Ter por apêndice a mão com que este corpo escreve, come e etc e tal subiu-lhe ao ombro e decidiu que não haveria de partilhar das minhas agruras.
A última das quais, uma dádiva de sangue.
Como sou o tal que, aparentemente, não serve para grande coisa e nasceu aqui por uma questão de equilíbrio e estética corporal, fui a vítima.

De braço renegado, passei a braço “hematomado”, negrinho de meter dó.
E dó, e ré e mi meti, porque passei a ser tratado com maior consideração e orgulhosamente exibido por onde as mangas pudessem ser arregaçadas. Até o camarada do lado de lá me agraciou com generosas doses de trombocid.
Lembraram-se de que sem mim nem rato nem mudanças...

Estava eu melhorzinho, já na fase esverdeada, quando o corpo de que pendo e dependo foi recrutado para um aniversário serrano. Fácil como é, e sem a menor atenção pelo meu estado ainda pós-vampírico, aceitou...
Sábado obrigou-me a calar o despertador às seis e meia da matina, enfiou-me debaixo de três mangas e atirou-nos para dentro de um expresso. Porque o corpo é fraco e eu mais, dormimos até chegar a Coimbra, com a tagarela lá de cima entreaberta.
Às 10 e pouco levantámos o queixoso do assento e esperámos por boleia, que este corpo é um pendura calejado.
A boleia levou-nos ao fórum, fez-nos almoço e ainda nos mostrou vídeos educativos “Ai, qui susto”.
Entretanto chegou outra boleia (pendura, insisto eu), bailaroska de seu nome, que me escolheu para companhia, a mim e não ao outro comunista cheio de manias, enquanto passeávamos pela baixa.
Às 6 seguíamos já a aniversariante pelos meandros da serra até ao seu gélido palácio.
Uma vez no gélido palácio não foi a lareira que nos aqueceu, mas as fritadeiras. A aniversariante fez de nós copeiras e deu um magnífico exemplo de como tirar partido dos seu convidados. Convidando mais cedo e tendo à sua espera a mesa por pôr, as batatas fritas por fritar, o porquinho bebé por esquartejar, a salada por fazer... Um jantar faça você mesmo! J
Faça você mesmo... e petisque à discrição, foi a nossa interpretação. Pão quentinho, chouriço, bolo-rei, batatas-fritas... enfim, chegámos à hora do repasto bem aviadas.
Bem aviadas e com lugar marcado, junto à lareira e de frente para o Benfica. À hora da sobremesa já estávamos satisfeitos com o resultado...
A conversa esteve animadíssima até à uma e picos, porque depois fomos para um barzinho cheio de fumo e música alta e conversa só mesmo com a vizinha do lado, a bailaroska, para afugentar o sono, que as seis da matina já pesavam.
Eu por mim estava satisfeito na vida, sossegadito no meu lado, sem nada que me apoquentasse, salvo algumas pseudo tentativas de confraternização da dita bailaroska, que o que queria era ronhar no meu ombro.
Mas se satisfeito estava, satisfeito deixei de estar quando trocámos o bar pela discoteca. O fumo e a música eram os mesmos, mas os bêbados entenderam que era a mim que deviam agarrar no esforço inglório de engatar o resto do corpinho.
Quando regressámos ao gélido palácio, cheirosinhas e a cair de sono, enfiámo-nos no colchão com tudo o que havia por cima.
Acordámos, petiscámos, reaquecemos e partimos, sem acordar a bela da aniversariante, que estava bem acompanhada.
Já de regresso a Coimbra mostrei de novo a minha utilidade, folheando as centenas de livros de duvidosa proveniência que enchiam a feira do livro. Eu estava entretido, mas a perninhas arrastaram-me dali para fora antes que a tenda cedesse à ventania.
A caminho da rodoviária tirei algumas fotos com o telemóvel à folhagem caída e protestei contra o facto de ter de ser eu a carregar com o saco de viagem. Fiz uma tal birra, que o saco se fez mochila e a mim me deram descanso.
Aquilo que a máquina de bebidas da rodoviária insistia em não me dar. Nem descanso, nem a bebida…

Entretanto já regressei a casa. Ainda hematomado, ainda convicto de que a minha vida não é fácil.
Mas enquanto houver trombocid…

6 Comments:

At 26 novembro, 2007 20:50, Anonymous Anónimo said...

estás no ramo errado - devias ter seguido literatura.

tenho dito.

 
At 28 novembro, 2007 12:31, Blogger bailaroska said...

D-e-l-i-c-i-o-s-o!!!!
Adorei este relato! O nosso fim de semana visto pela perspectiva de um braço renegado e convalescente.
Só tu.

Beijos. E sim, eu gosto do braço conservador. E do ombro que lhe está na extremidade superior.

 
At 30 novembro, 2007 08:09, Blogger Ameixinha Verde said...

Taralhoca... eu sei que vídeo é esse sua devassa pervertida TARADONA!!!!
Espero que tenhas tomado apontamentos ao menos.
Despeço-me com um "ai si fossi o meu" para ficarmos entendidas.
:P

 
At 30 novembro, 2007 13:43, Blogger Cisne branco said...

LOOL, só mesmo esse teu braço...

 
At 30 novembro, 2007 14:33, Blogger bailaroska said...

Olha, olha, é claro que a depravada da Ameixola já conhecia!!!!!!! Quem sabe se não foi mais um dos seus "home made" videos...

 
At 03 dezembro, 2007 22:49, Blogger Angelica said...

Realmente não é fácil... eu até fiquei cansada só de ler!!!

 

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