Toquei à campainha. O toque do costume dispensa resposta. O clique ruidoso da fechadura eléctrica diz-me que lá em cima sabem que cheguei. A rapidez com que o clique chegou diz-me que lá em cima não ignoram que aqui fora está a chover.
Assim que tiro o pé do molhado e entro no hall do prédio encaro-os.
Embrulhados em fatos feitos à medida a tentar em vão ser tão discretos quanto os sapatos pretos que trazem, denunciados por um "boa tarde" reflexo.
Subi o primeiro degrau, escalei o segundo, trepei pelo terceiro e quando chego ao quarto... não me estranha a ausência da cama, estranha-me que um sapato preto circunspecto tenha subido o primeiro degrau.
Galgo o 5º, 6º, 7º e 8º degraus. Chego ao primeiro patamar e apagando as pegadas húmidas que fui deixando vêm quatro sapatos pretos, o prelúdio de dois fatos feitos à medida.
Mais dois lanços de escadas, um novo patamar e fico convencida de que não é uma porta que querem, querem-me a mim.
Ao terceiro patamar já não havia espaço para as pegadas. À direita um corrimão, à esquerda uma parede.
Segui em frente, até ao quarto patamar, até à porta do meu aconchego.
A dois passos de deixar de ser presa, torno-me interlocutora:
"Desculpe, sem querer parecer que isto é uma perseguição..."
(não... certamente tinham assuntos prementes a tratar no forro!)
Eu não compro, não vendo, não tenho.
Estes tipos das imobiliárias são doidos!!!
5 Comments:
Bolas, quando vi a imagem e comecei a ler o relato pensei q era um pesadelo... E afinal era mesmo!
SARNAS!!!!!
eu pensei que eram os Helders :-)
lol tb pensei q fossem os helders de olhinhos azuis. Afinal.. eram só parecidos.
Por isso é que ue senti a terra a tremer... Eras tu que tavas com medo....
E tu não me contaste nada... desgraçada... assustaste-me!!!
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