Ontem cheguei ao meu escritório, sentei-me na minha cadeira, pousei os braços na minha secretária e dei por mim intrigada. A costura da minha blusa estava ali bem à minha frente, sem pudores. Ora não tendo eu as mangas arregaças, coisa que o tempo não permite, nem sendo esse o feitio da minha blusa, coisa que o meu gosto não autoriza, intrigava-me o como e o porquê das minhas costuras estarem tão exibicionistas.
Meditei demoradamente sobre o assunto e concluí que, apesar do como e do porquê serem advérbios muito bonitos, o melhor mesmo seria ir à casa de banho.
Não por causa de qualquer aflição repentina, mas porque convinha virar a blusa que vestira do avesso.
Anteontem entrei na minha sala, sentei-me no meu sofá, embrulhei as minhas pernas e dei por mim intrigada. O meu chinelo rosinha tinha uma mancha escura. Ora não tendo eu estado a comer chocolate, coisa que a balança não permite, nem tendo comprado um chinelo com aquele padrão, coisa que o meu afã de simetria não autoriza, intrigava-me o como e o porquê do meu chinelo estar manchado.
Meditei longamente sobre o assunto e concluí que, apesar do como e do porquê serem advérbios muito bonitos, o melhor mesmo seria sacudir o chinelo.
Não porque a sacudidela levasse a mancha, mas porque era de evitar que a ordinária da fagúlha que saltara da lareira o furasse de ponta a ponta.
Há uns tempos atrás entrei na minha casa, despi o meu casaco, fui interpelada pela minha irmã e dei por mim intrigada. A minha orelha não tinha brinco. Ora não estando a outra orelha despida, coisa que o meu estilo não permite, nem tendo eu o hábito de usar um só brinco, coisa que a mania não autoriza, intrigava-me o como e o porquê da minha orelha estar desbrincada.
Meditei largamente sobre o assunto e concluí que, apesar do como e do porquê serem advérbios muito bonitos, o melhor mesmo seria ir ver do cachecol.
Não porque o cachecol me devolvesse o brinco, mas porque tinha de ser violentamente punido por ter subtraído o brinco à orelha e o ter largado por aí.
Andarei ensonada, arreganhada, distraída, ou é a minha roupa que me anda a sabotar?
3 Comments:
completamente sabotada!!!
e desde já agradeço pelas gargalhadas que me fizeste dar :))
Tudo ao mesmo tempo?! Embora eu ache que a percentagem de culpa da roupa é diminuta...
Más companhias, talvez. É que andar já na companhia do Alzeimer não é nada bom sinal.
Largue o queijo dona taralhoca!
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