Bolha

Porque a minha história não podia ficar sem pontuação...

terça-feira, fevereiro 27, 2007

Imaginemos duas situações distintas (imaginando como quem vê, porque a “a falar a verdade” não foi imaginação, foi mesmo):
1ª Situação
Uma tal Taralhoca vai na sua vidinha, cheia de larica, a caminho do seu suculento lar, quando sente algo a cair. Cai leve, levemente, cai por cima de mim. Não é chuva, não é gente, que o sol brilha e a gente não cai assim... Também não era caca de pássaro, seus alarmistas! Mas lá que era porcaria era. A porcaria varrida de uma varanda para fora, por uma estuporada vizinha. A Taralhoca atónita começa a barafustar entre dentes, não fosse o esterco flutuante, quiçá contendo até a tal caca de pássaro já desfeita, entrar boca adentro sem pedir licença. A javarda da vizinha ouve o esbravejar da furibunda Taralhoca e grita: “Desculpe, não vi!”. Oh sua badalhoca, as desculpas não se pedem, evitam-se com uma pá e uma caixote do lixo!!!!
!!!!!! Ai o caraças!!!!!!
2ª Situação
Uma tal Taralhoca (a bem dizer a mesma), está descansadinha na sua vidinha, já de bandulho consolado, no seu barulhento lar, quando ouve algo soar. Soa pouco leve, levemente, como quem grita por mim. Não é chuva, mas é gente e é a campainha que berra assim. Era uma vizinha que tocava insistentemente a campainha que eu insistia em não ouvir graças ao regulador de volume do meu rádio, que resolvera abancar no máximo. Quando abri a porta a vizinha diz: “Oh Taralhoca, desculpe estar a incomodar e obrigá-la a baixar a música, mas vinha pagar o condomínio...” em lugar de me repreender por estar a atroar a vizinhança.
(… Ai o caraças… )

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Meninos dos papás... e meninos na casa dos papás.
Não chego a perceber se sacrificámos a independência à comodidade, ou se a independência se tornou incómoda... afinal porquê abdicar de cama, mesa e roupa lavada à borla, servida com uma boa dose de liberdade e mimo?
“Eu com a tua idade...” chega-nos de vez em quando aos ouvidos. Com esta idade, ainda não temos profissão estável, não somos casados, não temos filhos, não temos casa própria. Os anos sabáticos a que chamamos faculdade passam factura...
Somos menos arrojados ou prezamos em demasia o conforto familiar?
Falta o dinheiro ou a disposição para arcar com as responsabilidades?
Temos medo ou não temos pressa?

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Calma amigo, que o mundo não acaba hoje!
Assim responderia a minha avó às hostes de leitores impacientes, que não se compadecem de uma Taralhoca ocupada até medula. :)
De facto, se o inferno está atulhado de boas intenções, de más estão os tribunais cheios.
Culpo o trabalho pelo meu silêncio e pela franca decaída das minhas faculdades.
Eu que a 1ª sardanisca que encontrei no parque infantil baptizei de crocodilo bébé, eu que assim que aprendi na escola a fazer cubos e paralelepípedos fiz para a minha mãe um pequeno pónei de papel cujo rabo lãzudo crescia (à custa de estar todo enfiadinho no interior do paralelepípedo que fazia as vezes de corpo), eu que vivi e cresci à custa de uma imaginação de proveniência duvidosa e resultados inesperados, não consigo engendrar uma forma de tornar as despesas com a aquisição compulsiva de chocolates e yogurtes cremosos dedutíveis no IRS...
Ah trabalho malvado, que deixas a zeros a conta das ideias mirabolantes!
Ah trabalho cruel, que deixas o fisco ir ao meu magro bolso!

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Em época de campanha, prometo apenas que não vou fazer campanha. Se a campanha tem uma virtualidade é a de nos dissuadir, á custa dos disparates arremessados, de votar no sentido que, tão dramatica ou condescendentemente, nos é apontado. Não tenho a pretensão de influenciar ninguém, mas também não tenho o hábito de passar ao lado.

Acho que nenhuma mulher faz um aborto “porque sim”.
Acho que, embora muitas vezes seja uma decisão precipitada, não é uma decisão leviana.
Acho que o desespero e a angústia apadrinham operações às escuras, patrocinam redes clandestinas de “desmancho” e que deixam sequelas irreparáveis.
E acho que o aborto é crime.
Crime não porque a lei o sancione com uma pena, mas porque há uma criança que é morta. Por decisão da mãe, pelas mãos de uma qualquer pseudo-parteira. É mais do que uma promessa de vida interrompe, é uma vida que se abrevia. Uma vida que ainda não tem identidade, mas já tem princípio. Que é vida desde o instante em que duas células se juntam e se forma um ser. Um ser que progressivamente se vai transformando, ganhando olhos, mãos, sexo, cabelo, dentes, altura, peso, formas, rugas...
A vida não desponta às dez semanas, não é menos futuro antes que o calendário marque 170 dias. E um dia depois?
Uma vida que se perde é uma tragédia, uma vida que se rouba é crime.
Não será menos crime porque aquela vida ainda não tem nome, ainda não tem voz, ainda não tem rosto.

O aborto existe e existe a cada dia. E a cada dia que passa mulheres guardam as marcas que o aborto deixa. Legalizar o aborto para que as marcas físicas não fiquem, para poder esquecer os “talhos”, as agulhas de tricot? Por trágico que seja o aborto para a mulher, não é uma fatalidade, é uma escolha. Ou o aborto, ou as consequências de uma gravidez não desejada. Uma escolha que em muitas circunstâncias parece de sentido único, mas que nunca foi dada à criança que podia ter nascido.
Eu não denunciaria uma irmã, uma amiga por ter feito um aborto. Tal como não as denunciaria por terem praticado um homicídio. Porque as amo e porque à luz desse amor as suas razões gritariam ainda mais alto. Eu não sou indiferente às razões de uma mulher, tal como nenhum juiz o é. Tanto é assim que nenhuma mulher se encontra hoje a cumprir pena pela prática de um crime de aborto. Eu não sou alheia aos porques de uma assassina, o que não implica que não continue a ver ali o assassínio.
Não terá porventura qualquer um de nós legitimidade para julgar uma mulher que aborta, tal como não teremos talvez legitimidade para julgar o pai que mata o assassino do seu filho, mas tanto um como o outro devem ser julgados pelos seus crimes, ainda que não punidos à sombra dos motivos que os “empurraram”.
Liberalizar o aborto até às 10 semanas não obriga ninguém a fazer um aborto. Se o homicídio for liberalizado também não terá de andar ninguém de andar por aí a distribuir navalhadas a gosto... Liberalizar apenas irá banalizar o aborto. O que era uma medida desesperada tornar-se-à mais um meio de controlo da natalidade. Tal como na China se tornou “normal” matar as filhas mulheres à nascença, por muito funesta que seja a comparação.

Eu respeito a opinião de cada um. Mas eu voto não.
Fascista chamar-me-ão alguns. Ou talvez não, porque isso sim, já seria crime...

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Ao dia cinco de Feveiro de 2007 (portanto hoje) deslocava-se uma certa e determinada Taralhoca, veloz como o vento (uma brisa fracota) e pesarosa com o iminente rebentamento das suas calças (pelo avolumar do conteúdo ou da paranóia), em direcção ao seu avarento local de trabalho, quando viu a sua furiosa marcha detida violentamente por uma amostra de esgoto de águas pluviais que cruza a rua. Esgoto esse que teve mais olhos que barriga e tentou engolir a Taralhoca, não conseguindo mais do agarrar o salto da sua bota com os seus dentes em forma de grade. A veloz, pesarosa e cada vez mais atrasada Taralhoca lutou bravamente para libertar o seu salto de tão fétidas entranhas e a si de tão ridícula situação, mas infelizmente teve de ceder ao aguerrido esgoto a sola do seu salto e muitas gargalhadas, próprias e alheias.
Não fora a intervenção de um cavalheiro por lá continuaria a Taralhoca, afanosamente agarrada à sua própria perna, Taralhoca esta que não teria chegado a horas ao "Domus Iustitiae".
A Taralhoca aconselha os seus estimados leitores a terem cuidado com os esgotos, por muito modesta que seja a sua aparência.
Recomenda ainda que paguem o bilhete sempre que andarem num transporte público, ou terão igualmente de fazer uma visitinha ao "Domus Iustitiae", mas na qualidade de Arguidos.
Recomenda sobretudo que paguem o bilhete para ver este filme. Simplesmente brilhante!