Bolha

Porque a minha história não podia ficar sem pontuação...

segunda-feira, março 29, 2010

Não sou chorona. Não sou mesmo nada chorona.
Filmes à parte, quando me dói, no corpo ou na alma, mais depressa barafusto do que choro.
Descobri há dois dias que esta minha regra tem um "salvo se...".
Salvo se morder a língua.
O almoço era tão bonzinho e a avidez era tanta que mordi a ponta da minha língua.
Chorei compulsivamente durante dois minutos, com direito a soluços, nariz vermelho e lágrimas em catadupa.
Depois disso calei-me, limpei a cara e continuei a comer. A comida ainda apetecia e a língua ainda estava inteira.

segunda-feira, março 22, 2010

Limpar Portugal

Apregoam todas as canções da Disney que os nossos sonhos, mais príncipe, menos bruxa, se hão-de realizar um dia destes.
Espectadora atenta de cada filme, feliz proprietária da compilação dos maiores êxitos musicais e crente fervorosa na doutrina do Sr. Walt, tinha fé que um dia destes seria o meu dia...
O meu sonho não envolvia realeza, madrastas, fadas ou anões. O meu sonho era bastante mais simples, mas nem revistas cor-de-rosa, nem substâncias alucinogéneas, nem profissionais do prazer fetichista mo podiam realizar.
Esperei, esperei, esperei e não desesperei porque se o Sr. Walt vende tanto DVD é porque com certeza sempre lhe fugiu a animação para a verdade.
O meu sonho era badalhoco nos meios, mas limpinho nos fins e a sua hora haveria de chegar.
E chegou! Dia 20 de Março de 2010, carinhosamente baptizado de dia L. O dia de Limpar Portugal.
Eu sei, há sonhos mais agradáveis ao cheiro e à vista, que poupam mais o corpo e dão mais dividendos, mas os sonhos não se escolhem.
Desde que me lembro de ser gente, lembro-me também de, nos dias de praia, vaguear no areal ao final da tarde a recolher lixo. Não por consideração para com os outros banhistas, mas porque me fazia espécie ver porcaria espalhada. Nos pinhais a cena era a mesma...
À medida que fui crescendo a mania não passou, acrescentei-lhe sim uns palavrões.
O dia 20 provou que há mais malucos com o mesmo sonho, limpar a natureza. E há outros tantos com pelo menos um pingo de consciência cívica.
Às oito da matina de um sábado muitos se reuniam e depois distribuiam em grupos pelas freguesias do distrito.
O corpo ainda hoje está dorido de tanto puxar por pneus, bidés, canos, bidons, garfos, patins em linha, plásticos, latas, garrafas, roupa, carpetes e muitos, mas muitos sapatos. Mas o dia correu muitíssimo bem. Todos estavam animados, os coordenadores foram impecáveis, os funcionários da Câmara Municipal incansáveis e as pingas de água até souberam bem.
Às 6 da tarde, já na banheira, pensava para comigo mesma "O Walt é que as sabia todas..."
...
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É muita desconsideração!! Abdica uma pessoa de um sábado para limpar Portugal e na segunda-feira caga-lhe um pássaro em cima!! Felizmente era um pássaro pequeno. Felizmente não estava com os intestinos desarranjados. Felizmente acertou só na cabeça. Felizmente já ía a caminho de casa...

quinta-feira, março 18, 2010

Os carros vão à revisão todos os anos.
Dizem que convém, não vá dar-lhes um achaque tal que levem cinco ou seis pessoas pela frente.
Eu não sou um carro. Pelo que não mereço a deferência que um carro tem.
As minhas entranhas e fluídos têm de esperar pela vetustez para ir à revisão.
Segundo directrizes do Ministério da Saúde só com a chegada do caruncho é que devemos ir à vistoria.
Porque naturalmente jovens de 29 anos não podem ter diabetes, doenças infecto-contagiosas, anemias, colesterol alto, hipertensão, etc, etc. Pois claro que não! E muito menos morrem com esta idade. ..
Acresce que não pagam impostos para suportar o sistema nacional de saúde, os estupores!
Queres que o teu médico de família te mande fazer umas análises? Espera uns anos.
Revisão é para quando já precisamos de peças novas. As que por cá andam que se aguentem (sem se saber por quanto tempo ou como). Afinal, os nossos achaques não levam mais cinco ou seis à frente...
E se o Ministério da Saúde fosse c... de uma ponte abaixo, não?!!!!!

sexta-feira, março 12, 2010

Ontem cheguei ao meu escritório, sentei-me na minha cadeira, pousei os braços na minha secretária e dei por mim intrigada. A costura da minha blusa estava ali bem à minha frente, sem pudores. Ora não tendo eu as mangas arregaças, coisa que o tempo não permite, nem sendo esse o feitio da minha blusa, coisa que o meu gosto não autoriza, intrigava-me o como e o porquê das minhas costuras estarem tão exibicionistas.
Meditei demoradamente sobre o assunto e concluí que, apesar do como e do porquê serem advérbios muito bonitos, o melhor mesmo seria ir à casa de banho.
Não por causa de qualquer aflição repentina, mas porque convinha virar a blusa que vestira do avesso.

Anteontem entrei na minha sala, sentei-me no meu sofá, embrulhei as minhas pernas e dei por mim intrigada. O meu chinelo rosinha tinha uma mancha escura. Ora não tendo eu estado a comer chocolate, coisa que a balança não permite, nem tendo comprado um chinelo com aquele padrão, coisa que o meu afã de simetria não autoriza, intrigava-me o como e o porquê do meu chinelo estar manchado.
Meditei longamente sobre o assunto e concluí que, apesar do como e do porquê serem advérbios muito bonitos, o melhor mesmo seria sacudir o chinelo.
Não porque a sacudidela levasse a mancha, mas porque era de evitar que a ordinária da fagúlha que saltara da lareira o furasse de ponta a ponta.

Há uns tempos atrás entrei na minha casa, despi o meu casaco, fui interpelada pela minha irmã e dei por mim intrigada. A minha orelha não tinha brinco. Ora não estando a outra orelha despida, coisa que o meu estilo não permite, nem tendo eu o hábito de usar um só brinco, coisa que a mania não autoriza, intrigava-me o como e o porquê da minha orelha estar desbrincada.
Meditei largamente sobre o assunto e concluí que, apesar do como e do porquê serem advérbios muito bonitos, o melhor mesmo seria ir ver do cachecol.
Não porque o cachecol me devolvesse o brinco, mas porque tinha de ser violentamente punido por ter subtraído o brinco à orelha e o ter largado por aí.

Andarei ensonada, arreganhada, distraída, ou é a minha roupa que me anda a sabotar?

terça-feira, março 09, 2010

Deixei passar um dia inteirinho para o post não me sair tão azedo como laranjas verdes.
O dia inteirinho passou, mas não garanto que o post não vá amargar na leitura...
Porque passado que está o dia inteirinho a que vos escreve amarga continua.
Começando pelo princípio, como me ensinou a professora de português..
(... ... ... rebobinando a memória... ... ...)
... Domingo, às 23:50, largava o sofá e a minha manta da abelha Maia, para me enfiar na cozinha. A minha missão era simples. Barrar crepes com nutella. Foi o que fiz com muito brio, aproveitando o entretando em que a massa dos crepes não queria colaborar com a frigideira para fazer umas pipocas.
À 00:40 de Segunda-feira regressava à sala para abrir o sofá-cama e passados 10 minutos depositava-me por lá.
Por volta das 05:00 largava em fúria o sofá-cama e enfiava-me na cama indignadíssima.
Tanto reboliço e tanta celeuma por culpa de quem? Do Óscar e de toda a sua descendência.
Desde a faculdade ficou o hábito de não perder uma noite de Óscares e esta não haveria de ser excepção.
Dos 10 candidatos sete já me tinham passado pela vista. Mas nem todos tinham por lá ficado.
Não escondo aqueles de que gostei e não faço alarde daqueles que não vou rever, porque, como dizem os espanhóis, "para gustos, colores". E não hei-de ser eu a exilar o lilás.
Mas é preciso ter muita, muita lata - vá, estar para lá de sucata - para dar o Óscar de melhor filme a "Hurt Locker" (Estado de Guerra). Um fime sem clímax, com muito pouco de extraordinário, que mais arrefece que aquece. Um bom filme, mas de que não se guarda memória.
Dirão os prolíficos críticos de cinema: um filme cru. Eu não diria cru, diria desensabido e não é a falta de tempero que me leva a pagar uns escandalosos 5 euros para ir ao cinema.
Cru era o "Crash". Cru e brilhante.
Acharam que o Precious e Up já se governavam benzinho com uma nomeação e o Óscar para melhor filme de animação?
Acharam que o Avatar teve público a mais para merecer o Óscar? Que seria uma vergonha partilhar a opinião de milhões?
Já não é só uma questão de gosto, é uma questão de mau gosto.
Pronto, estou fula da vida com a escolha.
E nem a cerimónia me contentou. Cuspir e despachar vencedores.
Valham-me os crepes com nutella e as pipocas pra não dar a noite por perdida...